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Mesada: uma ferramenta para formar adultos financeiramente responsáveis

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Há algum tempo, educadores e especialistas em finanças vêm defendendo a importância de ensinar as crianças sobre dinheiro desde cedo. Essa abordagem pode, inclusive, ser um instrumento valioso para moldar a futura geração a ter mais controle no consumo, preocupar-se com o futuro e evitar o endividamento, que é uma questão muito significativa em nosso país.

A educação financeira passou a ser incorporada apenas em 2020 na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) das escolas privadas e públicas de todo o Brasil, embora algumas escolas já trabalhassem com esse conceito, como o Colégio Alicerce, em São Paulo, que há 10 anos desenvolveu  o projeto Sonho Coletivo. Esse projeto tem o objetivo de incentivar os alunos a poupar uma pequena quantia semanalmente ao longo do ano, com o propósito de utilizá-la para organizar um passeio ou uma festa no Dia das Crianças. “O Sonho Coletivo tem sido um sucesso entre crianças e jovens, mas não deve se restringir à sala de aula. É ideal que os pais reforcem em casa essas lições importantes que os filhos estão aprendendo na escola, talvez utilizando até mesmo a mesada como ferramenta”, recomenda a coordenadora pedagógica Eunice Tenório, que integra a equipe do colégio há 30 anos.

Uma dica importante é que não se deve educar uma criança para ganhar dinheiro, mas para realizar sonhos, isso fará toda a diferença na vida dela. Mas a criança só consegue aprender a lidar com dinheiro se tiver alguma quantia em mãos. Como ela ainda não trabalha, de onde essa quantia vem? Aí é que entra a mesada: se utilizada de forma estratégica, ela pode ser uma excelente ferramenta de educação financeira, já que é uma oportunidade de eles aprenderem na prática a administrar ganhos, gastos e economias para realizar sonhos no futuro.

Ao começar com a mesada, algumas dúvidas podem surgir: qual a idade correta, a quantia ideal e até mesmo sua periodicidade. Outro ponto que pode causar questionamentos também é se o valor deve ser pago em troca de alguma tarefa, por exemplo.

Para esclarecer todas essas dúvidas, reunimos algumas dicas de especialistas sobre o assunto:

» Começo da Mesada

De forma geral, a idade ideal para começar a dar a mesada propriamente é a partir dos 6 ou 7 anos, quando a criança já consegue compreender conceitos mais amplos sobre dinheiro e aprender sobre o uso e administração dele. Mas, isso não significa que você não possa trabalhar a educação financeira com seus filhos antes dessa idade.

Entre os três e quatro anos de idade, as crianças não têm interesse no dinheiro em si, mas já possuem desejos de compras (um brinquedo ou uma guloseima por exemplo). Durante essa fase, é possível iniciar a educação financeira e introduzir o conceito de equilíbrio. Por exemplo, você pode dar três cofrinhos a criança – um pequeno, um médio e um grande – e incentivar que ela já comece a guardar neles algumas moedinhas, pensando em sonhos de curto, médio e longo prazos. Mesmo que ela não saiba o valor monetário do dinheiro, vai entender que ele serve não apenas para comprar coisas, mas também para a realização de sonhos. Quando ela encher um dos cofrinhos, poderá ir a uma loja comprar o que quer, e vai perceber que vale a pena esperar para realizar um sonho.

» Periodicidade

Mesmo que a mesada se refira a um pagamento mensal, você pode optar pela quinzenada ou a semanada. O importante é definir data e quantia específicas para gerar expectativas e não frustrações na criança. De forma geral, quanto menor for a criança, menor deve ser o intervalo entre os valores disponibilizados, a fim de facilitar a compreensão do conceito de tempo.

» Valor

Primeiramente, você precisa analisar o orçamento familiar para definir o valor da mesada, principalmente se tiver mais de um filho.

Outra dica valiosa é adequar a mesada à idade da criança, começando com um valor simbólico, de R$ 1,00 por semana, por exemplo, e ir aumentando gradualmente.

» Cofrinho ou cartão?

Com a popularização do PIX e outros métodos de pagamento digitais, o uso de dinheiro em espécie tem se tornado menos comum. No entanto, para ensinar a importância de poupar, você pode começar incentivando a criança a usar um “cofrinho” tradicional, pois crianças menores precisarão de algo físico para compreender. Uma dica importante é que, para crianças menores, você não precisa necessariamente utilizar dinheiro de verdade, pois o importante é a criança entender o conceito. Você pode, por exemplo, dar a ela notas de brinquedo, o no momento de fazer o pagamento no estabelecimento, utilizar seu cartão de crédito, PIX, etc.

Conforme esta criança cresce e amadurece, é possível considerar a opção de um cartão adicional ou abrir uma conta digital para menores de idade. Dessa forma, além de pagar a mesada via PIX e ter um controle mais fácil dos gastos, você também estará ensinando a utilizar diferentes meios de pagamento, além de permitir que ela adquira mais responsabilidades e mais autonomia.

» Tarefas versus mesada

Envolver a criança nas tarefas domésticas também ajuda a criar nela o comprometimento com a família e o aprendizado de habilidades. As tarefas podem ser divididas em dois tipos: primeiro, aquelas que são tarefas gerais da família e que envolvem por exemplo organização de brinquedos, arrumação do quarto, limpeza de cômodos, etc. Estas devem ser apresentadas às crianças como atividades que todos realizam, inclusive elas, afinal são integrantes da família e colaborar faz parte da convivência. Segundo aquelas que são atividades extras e que podem ser remuneradas. Por exemplo: se os pais teriam que pagar alguém para lavar o carro, a criança pode lavar este carro e receber um valor monetário em troca do serviço extra. Neste caso, são ensinados valores como recompensa pelo trabalho, responsabilidade e motivação para crescer.

Alguns pontos importantes

Ao remunerar o seu filho com mesada, é fundamental que você o oriente sobre qual a finalidade dessa quantia e que acompanhe constantemente a evolução do conhecimento dele.

Além disso, vale lembrar que as crianças aprendem pelo exemplo. Portanto, é importante que os adultos sejam modelos para os filhos, seja ao economizar, cuidar dos bens de consumo ou ao ter um bom plano de investimento para o futuro.

Fontes

DOMINGOS, Reinaldo. Caderno da Família: Coleção dos Sonhos. São Paulo: Editora DSOP, 2017.

outubro de 2023