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Com uma presença totalmente voltada ao ambiente doméstico, o trabalho para as mulheres esteve, por séculos, associado a atividades ligadas à cozinha, limpeza, educação dos filhos, cuidados com o marido e outros afazeres “femininos”. Essa forte limitação social foi sendo, pouco a pouco, questionada e acabou ganhando espaço com a expansão do capitalismo que levou as mulheres para dentro das fábricas, sempre, é claro, em condições muito desfavoráveis.
Com avanços e retrocessos, o movimento pela igualdade de gênero cresceu sobretudo na virada dos séculos 19 e 20. No Brasil, mesmo já tendo conquistado direitos importantes – como o acesso à educação formal (apenas em 1827 foi sancionado o ensino público acessível a mulheres, apesar de ainda segregado) e a possibilidade de votar (que só chegou por aqui em 1932) – as mulheres seguem na luta por seu lugar ao sol no mercado de trabalho.
Ainda um longo caminho pela frente
Uma pesquisa divulgada em março deste ano pela Fundação Getúlio Vargas revelou que a taxa de inserção das brasileiras no mercado de trabalho está em 51,5%, uma queda significativa frente a 2019 (54,3%), provocada sobretudo pela pandemia que impactou ainda mais fortemente o emprego feminino. Na comparação com os homens (71% de inserção atual), as mulheres têm presença 20 pontos percentuais inferior. Segundo a pesquisadora Janaína Feijó, que coordenou o estudo, a pandemia interrompeu o processo de melhoria que vinha se estruturando, fazendo com que a taxa recuasse a patamares semelhantes aos de 2012.
A boa notícia vem de um outro levantamento, feito pela consultoria Grant Thorton, que aponta um aumento de 25%, em 2019, para 38%, neste ano, na efetivação de mulheres em postos de liderança. Mesmo com uma leve queda em relação a 2021 (39%), o Brasil apresenta resultado superior à média da América Latina (35%), apesar de estar atrás de países como África do Sul (42%), Turquia e Malásia (40%).
Quando o tema é salário, novamente os dados não são muito animadores. De acordo com a consultoria IDados, as mulheres recebem cerca de 20,5% menos do que homens com o mesmo perfil de escolaridade, idade e categoria de ocupação. “É como se a cada ano a mulher trabalhasse 74 dias de graça”, explicou a pesquisadora Thais Barcellos.
O valor da autoestima
Para entender esses números na vida real, entrevistamos Bia Diniz, a presidente da Cruzando Histórias, uma organização sem fins lucrativos, que promove o acolhimento, a valorização profissional e a empregabilidade de mulheres. Acompanhe essa conversa:
O que mobilizou você a criar o “Cruzando Histórias”?
Venho de uma família que faz muito trabalho voluntário e sempre participei de várias causas. Sou formada em Administração, com ênfase em RH, e tenho pós-graduação em Psicologia Organizacional do Trabalho e Gestão Estratégica de Pessoas. Trabalhei durante 14 anos no serviço público e, quando me tornei mãe, comecei a buscar um novo sentido para minha vida profissional.
Um dia, assistindo a uma matéria sobre desemprego no Jornal Nacional, vi uma mulher dizendo que estava desempregada há oito meses, tinha três filhos e ia ser despejada. Ou seja, ela ia para a rua com as três crianças. Essa história me abalou profundamente, tentei encontrá-la sem sucesso, mas acabei começando uma atividade via Facebook para ajudar pessoas sem emprego. Basicamente, eu auxiliava na elaboração de currículos e fazia a ponte para eventuais vagas. Assim, nasceu a Cruzando Histórias há cinco anos. Desde então, nosso trabalho foi crescendo e se profissionalizando.
Como foi esse crescimento? O que vocês fazem?
Temos um time de 17 profissionais (com uma estrutura de governança, consultoria e capacitação), mais de 50 voluntários e contamos com uma sede no centro de São Paulo. Nesses 5 anos, conseguimos impactar a vida de cerca de 8 mil pessoas. Começamos com homens e mulheres, mas naturalmente nosso foco acabou indo para o universo feminino.
Nossos projetos e ações são voltados para o bem-estar, a qualidade de vida, o empoderamento e o fortalecimento emocional das mulheres. Ou seja, não é somente sobre emprego e renda, é sobre essa mulher estar inteira, reconhecer o valor de sua história e se perceber potente. O mercado de trabalho ainda tem valores e regras muito masculinos, o que dificulta o acolhimento, permanência e sucesso feminino.
Nosso trabalho é totalmente gratuito para mulheres em situação de desemprego que buscam recolocação e abrange apoio psicológico, mentorias, palestras, workshops, grupos de WhatsApp, produção de conteúdo e gestão das comunidades online, nas quais são compartilhadas vagas, cursos e eventos. Os temas vão desde inclusão digital, elaboração de currículo, funcionamento do LinkedIn, orientação de carreira, dicas de visual para entrevistas e empreendedorismo. Para isso, recebemos apoio de empresas e pessoas físicas.
Como é esse apoio?
As empresas que nos apoiam financeiramente, patrocinando projetos específicos, recebem como contrapartida a possibilidade de indicar seus profissionais para atuar como voluntários em nossas ações. Isso reforça uma série de competências e valores corporativos ligados à diversidade, empatia, comprometimento e inclusão. Além disso, recebemos doações de pessoas físicas e jurídicas que também são essenciais para impulsionar nosso trabalho.
Clique aqui e acesse o site da Cruzando Histórias.
Que tal ver um curta da Pixar a esse respeito?
Um dos maiores estúdios de animação do mundo, a Pixar lançou, em 2019, um curta-metragem de pouco mais de oito minutos para abordar, de forma leve e profunda, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no ambiente de trabalho.
A Pixar é responsável por algumas obras-primas da animação como Toy Story, Monstros S.A., Procurando Nemo, Os Incríveis, Carros e Up. Portanto, vale conferir o curta Purl*, compartilhar com amigos e familiares e contribuir para o avanço dessa discussão!
* No YouTube, o curta está disponível com legendas em inglês, mas é possível selecionar a opção de tradução automática.
Enquanto isso, por aqui...
A Visão Prev criou uma Comissão de Diversidade de Gênero com o objetivo de provocar discussões sobre assuntos cotidianos que parecem óbvios, mas que, na prática, podem ocultar alguns preconceitos. “O objetivo é conscientizar nossos colaboradores sobre a necessidade de criar, em todos os lugares que frequentamos, um ambiente que respeita e promove a pluralidade, com equidade no tratamento”, comenta Gustavo Araujo, diretor de Investimentos e sponsor da Comissão.
As mulheres representam 65,91% da força de trabalho na entidade e 40% dos cargos de liderança são ocupados por elas. A ideia é ampliar essa proporção, visando construir um time cada vez mais aberto à diversidade, criatividade, comprometimento e inovação.
Quer saber mais sobre diversidade?
Então, confira essas matérias já publicadas no nosso Blog: