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Investimento é, sim, coisa de mulher!

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Ainda existem muitos clichês que são repetidos à exaustão quando o assunto é mulheres e consumo ou mulheres e investimentos. Entre eles, está a ideia de que as mulheres gastam mais do que os homens, são compulsivas nas compras, não sabem administrar bem seu dinheiro e não costumam tomar boas decisões financeiras. Mas será que essas afirmações sobrevivem à análise de uma especialista da área? Para checar o que é ou não fato, conversamos com Ana Leoni, eleita pela Forbes como uma das mulheres mais influentes para se acompanhar no mercado financeiro.

Nossa Entrevistada

Ana Leoni trabalha há quase três décadas no mercado financeiro, sendo nos últimos 19 anos com educação financeira voltada ao comportamento financeiro. É CEO da Planejar, Associação Brasileira de Planejamento Financeiro, cofundadora e sócia da BEM Educação, colunista do Valor Investe e comentarista da Rádio CBN.

Afinal, é fato que homens e mulheres têm uma relação diferente com o dinheiro?

Na verdade, há vários estudos que mostram que não há muita diferença entre os gêneros, o que significa que não é possível comprovar esses clichês que ouvimos com frequência. Coisas do tipo: as mulheres são mais consumistas no dia a dia, mais conservadoras nos investimentos e preferem determinados produtos financeiros (renda fixa, por exemplo) a outros (renda variável). Em todos os meus anos no mercado, nunca vi uma pesquisa que atestasse essas ideias na prática. Mas existem variações profundas no mundo do trabalho que se refletem nos recursos acumulados por homens e mulheres.

Como assim?

Mulheres que ocupam as mesmas posições que homens recebem, em média, salários 25% inferiores. Então, elas têm que gerar renda de alguma forma ou cortar gastos para dar conta desse rendimento menor.

Outra questão objetiva é que as mulheres têm acesso mais restrito a oportunidades de carreira. Os cargos de liderança tendem a ser ocupados por homens que, portanto, atingem níveis de ganho mais robustos (vale aqui uma ressalva em relação à Visão Prev: de nossos 53 colaboradores, incluindo estagiários e jovens aprendizes, 59% são mulheres. E tem mais: 50% dos cargos de gestão são ocupados por mulheres – clique aqui e saiba mais sobre a presença feminina em nossa entidade).

Mais um aspecto fundamental é a própria empregabilidade das mulheres, a sua inserção no mercado de trabalho. Algumas pesquisas mostram que elas empreendem mais por necessidade do que por vontade, montando pequenos negócios, em geral para complementar a renda mensal.

Por fim, somos mais convocadas a consumir e, em geral, nos são oferecidos produtos de mesma função, mas por um preço mais alto (a chamada “Pink Tax”). No final das contas, somando tudo isso, o saldo para investir fica ainda menor.

> Segundo o IBGE, em média, 7 a cada 10 homens em idade ativa estão inseridos no mercado de trabalho contra 5 mulheres (clique aqui para saber mais).

Ou seja, o cenário ainda é desfavorável para as mulheres?

Exatamente. Escrevi um artigo no site “Valor Investe” em que eu dizia que, na maratona financeira, as mulheres largam no pelotão de trás. Assim sendo, temos que fazer um esforço adicional para alcançar os melhores lugares e isso impacta diretamente a possibilidade ou vontade de se tornar investidora. Dessa forma, temos um contexto concreto que traz desafios extras para as mulheres.

Quais seriam as motivações para as mulheres investirem?

As mulheres investem motivadas por segurança e estabilidade, menos pelo trade e pelo ganho de curto prazo. É mais para a proteção da família. O interessante é que se trata de um motivador de longo prazo porque você só adquire segurança se tem persistência em um prazo mais alongado. Não é à toa que as mulheres costumam ser beneficiárias de programas sociais, isso está ligado à questão do cuidado. Quase metade dos lares brasileiros têm hoje mulheres como chefes de família.

E em relação aos investimentos?

Muitos estudos falam sobre preferências de investimentos relacionadas a gênero, mas é difícil dizer qual reflete por completo como as mulheres pensam e agem frente ao assunto. A Vera Rita Ferreira, colunista do Valor Investe que escreve sobre o comportamento dos investidores, comentou certa vez que pode até parecer que as mulheres entendem menos do que os homens, mas elas são, na verdade, mais sinceras para dizer que desconhecem um determinado assunto.

Vale pontuar, porém, que muitas mulheres ainda delegam seus investimentos para os pais, maridos, namorados, irmãos, amigos… ou seja, elas podem até ser grandes exemplos em termos de carreira, mas não assumiram o protagonismo na hora de investir. Por isso, precisamos insistir que cuidar do dinheiro é, sim, coisa de mulher! Os bancos já vêm abrindo espaço para isso, inclusive com a contratação de mais mulheres para que haja uma interlocução maior.

As mulheres aprenderam a produzir renda, a lutar por seus direitos no mercado de trabalho e agora precisam conquistar mais esse espaço.

> Dados da Forbes Brasil apontam que apenas 25% dos investidores da Bolsa são mulheres (clique aqui para saber mais).

Como fazer para assumir esse lugar?

É preciso ter assertividade para conseguir tomar decisões a partir das informações e dados que temos à mão. As mulheres precisam entender que é um assunto chato mesmo (os homens também acham chato), mas incontornável: devemos nos interessar por ele. Não de forma contemplativa. É necessário colocar a mão na massa, ler, ouvir, aprender e perguntar sem medo. Se você senta com um profissional de investimentos, a responsabilidade de ser claro é dele até que você entenda o que está sendo dito e possa tomar uma decisão embasada.

Minha recomendação, portanto, é começar, dar o primeiro passo. Não adianta ficar ensaiando muito, tem que entrar em cena e ir aprendendo enquanto vai fazendo. Não precisa se aprofundar demais na teoria. Dá para começar com pouco para entender como funcionam os diferentes tipos de investimentos e ir ganhando musculatura para avançar. Hoje, o mercado é mais democrático e permite investimentos mais baixos em diversos tipos de ativos. Há inúmeras opções, mas a pessoa não deve se sentir acuada: experimente, peça orientação, é importante sair do “conforto” da poupança!

Como mulheres (e homens) podem se planejar para a aposentadoria?

Esse é um tema essencial. Se pensarmos que os estudos indicam uma expectativa de vida em torno de 100 anos, temos uma conta a fazer: nos primeiros 25 anos, somos despesa para alguém (nossos pais, em geral) ou temos uma renda muito baixa; dos 26 aos 65, temos 40 anos para produzir capital que assegure o nosso sustento nessas quatro décadas e por mais 35 anos, em média. Isso requer um planejamento muito grande.

Quem trabalha em uma empresa que oferece plano de previdência complementar (como é o caso da Visão Prev) não deve pensar duas vezes: aproveite ao máximo esse benefício, inclusive com a grande vantagem da contrapartida da patrocinadora sobre suas contribuições. Nesse caso, estamos diante de um investimento imbatível. Muita gente deixa para pensar no assunto quando já é tarde demais para construir um patrimônio relevante para a aposentadoria. Por isso, é necessário aprender a não comprometer toda a renda mensal e desenvolver um estilo de vida que permita investir para a aposentadoria. O futuro chega para todos!

março de 2025