Visão de Vida

20 de novembro: dia de luta, consciência e reflexão

A+ A- Baixar
PDF

Em 1995, o dia 20 de novembro foi escolhido durante uma manifestação pelos movimentos negros, sindicatos e outras organizações populares para ser uma data representativa da luta contra o racismo e por igualdade, homenageando Zumbi dos Palmares, líder do maior quilombo que já existiu no Brasil. Porém, o Dia da Consciência Negra somente foi incluído no calendário escolar em 2003 e formalizado oficialmente por meio da Lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011.

De acordo com o IBGE, os negros representam 56% da população brasileira. No entanto, infelizmente, ainda há desigualdade de oportunidades devido ao preconceito racial, uma triste realidade em um país que foi o último do continente americano a abolir a escravidão após mais de 300 anos.

 Segundo a pesquisa Percepções sobre o racismo no Brasil, encomendada pelo Instituto de Referência Negra (Peregum) e pelo Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (Projeto Seta), é unânime entre os entrevistados o fato de que as pessoas negras sofrem mais preconceito, seguidas pelos indígenas e imigrantes africanos. Essa foi a avaliação de 96% dos participantes do estudo, moradores de 127 municípios, que compreendem as cinco regiões do Brasil. Além disso, 63% deles afirmaram já ter presenciado algum ato racista, seja por meio de violência verbal, tratamento desigual ou agressão física.

Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores no estudo é que 81% das pessoas consideram o Brasil um país racista, embora 85% delas discordem de ter praticado ou adotado atitudes consideradas racistas. Isso significa que o preconceito em nosso país se manifesta por meio de ações veladas, tendo como base o racismo estrutural com suas práticas discriminatórias, institucionais, históricas e culturais, que privilegiam algumas etnias em detrimento de outras, por exemplo.

Além disso, há outros dados preocupantes que reafirmaram este racismo estrutural, como a quase ausência de negros em cargos de liderança nas instituições e empresas, a utilização de linguagem racista em termos pejorativos, como “mercado negro”, “a coisa tá preta”, “a cor do pecado”, entre outros; a incidência de 75% das mortes em ações policiais serem de negros e a taxa 2,5 vezes maior de homicídios entre jovens negros em comparação com jovens brancos, além de corresponderem a 64% dos desempregados no Brasil.

Para a filósofa e escritora Djamila Ribeiro: “No Brasil, todo mundo sabe que existe o racismo, mas ninguém se considera racista. Muitas pessoas, buscando defender-se do lugar de racistas, argumentam que ‘não veem cor’, mas essa perspectiva apenas fecha os olhos para um problema social profundo, que ocorre ao longo dos anos, e para a romantização da miscigenação”.

A escritora, que está na lista da BBC das “100 mulheres mais influentes e inspiradoras do mundo”, afirma em diversas entrevistas, livros e debates que já viveu na pele diversas atitudes discriminatórias e preconceituosas, ressaltando a importância de as pessoas terem sensibilidade para entender a importância da luta contra o racismo, já que a coletividade é um fator de sucesso no combate à discriminação. Afinal, “não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”, como explica Djamila Ribeiro em seu livro “Pequeno Manual Antirracista”, parafraseando outra ativista das causas negras, a americana Angela Davis.

Feriado estadual

Por meio da Lei nº 17.746, o Governo de São Paulo decretou que, a partir desse ano, o Dia da Consciência Negra é feriado estadual. Antes, a data era apenas considerada ponto facultativo no estado, ou seja, ficava a critério de cada município considerar a sua importância para ser um feriado. Outros estados também a adotaram como feriado, como Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro. Isso é um passo importante rumo à sua futura adoção como feriado nacional, uma demanda dos movimentos negros, sindicatos e organizações populares.

Para você saber mais sobre o Dia da Consciência Negra e a importância de se refletir sobre o racismo, reunimos uma lista com alguns livros e filmes:

 

  • Livros

Pequeno Manual Antirracista – Djamila Ribeiro

Companhia das Letras

Racismo estrutural – Silvio de Almeida

Editora Jandaíra

Minha história – Michele Obama

Editora Objetiva

  • Filmes

12 Anos de Escravidão – Oscar de Melhor Filme de 2013.

Cor Púrpura – Filme de Steven Spielberg, de 1985.

A Última Abolição – Uma retrospectiva emblemática da história do Brasil. Filme de 2018.

Malcom X – Biografia do famoso líder afro-americano (Denzel Washington), de 1993.

Faça a Coisa Certa – Drama/comédia de Spike Lee, de 1989.

Medida Provisória – Filme nacional de 2020, dirigido por Lázaro Ramos com Taís Araújo no elenco.

novembro de 2023