Visão de Vida

Desligue as telas e ligue o mundo!

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No almoço em família, pelos corredores dos shoppings, na praia, no parque e até no cinema (!), o que mais se vê por todos os lados são crianças e jovens abduzidos pelas telas das redes sociais e videogames. Pais, educadores e a maioria dos adultos à sua volta oscilam entre a passividade, o desespero e o entendimento de que é preciso aceitar a presença das telas, mas regular os excessos.

A psicóloga Nanda Perim, @psimamaa

Para ajudar nessa empreitada, convidamos a psicóloga Nanda Perim para uma apresentação online, no início de outubro, associada ao Dia das Crianças e às comemorações de 3 anos do Mais Visão, o plano para nossos participantes e seus familiares. Nanda (conhecida como @psimamaa no Instagram, com mais de 3 milhões de seguidores) é também educadora parental, especialista emocional e autora de livros que tratam de temas importantes como desfralde (Tchau, fralda. Foi bom te conhecer!), despedida da chupeta (Quando dei tchau pra Pepê), uso de telas e tecnologia (Isabela saiu da tela), rotina e ritual 

do sono (João dorme não), adaptação escolar (Carola vai pra escola), ansiedade (Flora quer tudo agora), medo (O medo do Pedro), birra e raiva (Dino Davissauro) – clique aqui para conhecer.

Foi uma conversa clara, didática e cheia de dicas para quem quer dosar o uso das telas na vida das crianças, dos jovens e (vamos admitir?) na nossa também. Afinal, esse é um vício que desconhece gênero, idade, língua, raça ou classe social. Veja os principais pontos da nossa live com a Nanda:

Uso mais consciente

“Quando falamos em telas, estamos pensando em computador, televisão, celular, tablet e videogame. Elas têm hoje um apelo tão grande na vida das crianças, adolescentes e adultos que acabamos nos desconectando do nosso entorno porque estamos literalmente grudados nelas. Além de profissional, tenho dois filhos e venho me dedicando a educar pais, mães e outros adultos próximos às crianças para que possamos ter uma consciência maior desse fenômeno, considerando todo o conhecimento que possuímos acerca do cérebro e do desenvolvimento infantil. Isso pode ser usado para reduzir o consumo de telas de um modo mais eficiente.”

Um dado recente ilustra o excesso entre os adultos: o Brasil é o segundo país em que se passa mais tempo no celular. Uma pesquisa internacional da Electronics Hub apontou que o brasileiro gasta 9 horas e 32 minutos por dia olhando para a tela, enquanto a média mundial (já bastante alta!) é de 6 horas e 37 minutos. Clique aqui para saber mais sobre essa pesquisa.

Por dentro do cérebro

“Em nosso dia a dia, o cérebro percorre três caminhos possíveis que, para efeitos didáticos, vou chamar de trilhas verde, vermelha e azul. A verde se dá quando o cérebro está se sentindo seguro e tranquilo, ele relaxa nosso corpo, consegue focar e prestar atenção. A vermelha tem a ver com a loucura diária, quando nos sentimos ameaçados (por perigos reais ou imaginários) ou precisamos fazer muitas coisas ao mesmo tempo, surgem então atitudes mais reativas, sensíveis, emotivas e fortes descargas de adrenalina para lidar com esse estresse no qual nós e nossas crianças acabamos submergindo. A azul surge justamente quando o cérebro já teve uma sobrecarga tão grande na trilha vermelha que precisa desligar, ficar mais letárgico. É aí que entram as telas como uma forma de desconexão e relaxamento. No entanto, se não tomarmos cuidado, somos tragados para dentro da trilha azul que nos distrai, porém nos retira do mundo.”

De pais para filhos?

“Na verdade, esse aspecto não trata apenas de quanto os pais ficam nas telas, mas também de quanto eles deixam as crianças ficarem nas telas. Ou seja, se você for analisar, na maioria das vezes, é a criança que pede as telas ou é você que oferece? Se você falar “não, é a criança que pede”, tente lembrar como isso começou, por que motivo ela acabou com uma tela nas mãos. Afinal, é injusto usar a tela com frequência para acalmar ou distrair a criança e depois dizer que ela está viciada. Precisamos nos responsabilizar por esse problema porque só assim podemos encontrar soluções.”

A importância do tédio

“De modo geral, os pais não entendem mais o valor do tédio, a importância de a criança não ter nada para fazer. Basta lembrar da nossa infância: muitas vezes, simplesmente não tínhamos o que fazer ou com quem brincar e sentíamos tédio. Aí, para passar o tempo, precisávamos usar a criatividade, brincar sozinhos, desenhar, fazer uma revistinha, pintar, ler… Nós temos que parar de achar o tédio ruim, de ter pena da criança porque ela não tem o que fazer e de nos responsabilizar por entretê-la continuamente.”

Um sintoma

“A criança costuma querer o celular por dois motivos. Primeiro, porque ele lhe foi entregue, ela sabe o que é e já aprendeu a gostar. Segundo, porque o adulto está o tempo inteiro no celular. Então, essa busca da criança é uma consequência, um sintoma. É muito comum as casas terem o celular, a televisão, o tablet e o computador mais acessíveis do que brinquedos, papel, lápis de cor, caneta, tinta aquarela, tesoura, cola… uma sugestão, portanto, é disponibilizar materiais, criar uma mesa ou um cantinho de atividades apropriadas a cada faixa etária. Não se preocupe porque ela está brincando sozinha: é bom aprender a se concentrar, curtir a própria companhia e exercer a criatividade. E tem mais: por que quando a criança fica horas no celular ou na frente da TV ninguém se incomoda com sua solidão?”

Momentos sem telas

“É legal combinar uma rotina de uso e os períodos em que as telas não aparecem de jeito nenhum como durante as refeições ou em viagens de carro. Temos que estimular esses momentos e ter prazer com eles para conversar, falar sobre nosso dia, inventar brincadeiras coletivas, apreciar a paisagem… enfim, promover nossos encontros reais e as memórias afetivas. Isso vale para todos, não só para as crianças. No começo, pode até ser difícil, porém vai ficando mais fácil a cada dia. Vale aqui a máxima: o que os olhos não vêm, o coração não sente. É necessário deixar as telas e o controle remoto longe do alcance para a criança tirar do automático o costume de ligar a TV ou pegar o tablet logo que acorda ou chega da escola. Sem perceber, somos nós que incluímos esses hábitos na sua vida e, portanto, precisamos conscientemente ajudar a mudá-los, sem culpas ou julgamentos. Estamos todos nesse barco. É muito bom saber o seguinte: quanto menos telas, mais a criança vai inventar modos de se distrair, aprender a se concentrar e se divertir sozinha.”

Um sono melhor

“As telas têm uma luz azulada que desregula, entre outras funções do organismo, a produção da melatonina que é o hormônio responsável pelo sono. Então, além de a criança ter menos tempo de qualidade com você, brincar menos, exercitar menos a sua criatividade, ficar mais estressada pelo excesso de estímulos e se concentrar menos, ela ainda vai ter um sono de pior qualidade, com consequências sobre seu humor e até mesmo seu aprendizado e crescimento. Nós precisamos de, pelo menos, uma hora e meia sem estímulos fortes para dormir bem. Aquela meia-luz amarela, até para tomar banho antes de dormir, é mágica para criar um ambiente calmo, de relaxamento e sossego.”

Quantidade e qualidade

“Devemos estar atentos não apenas à quantidade, mas também à qualidade do que é visto: YouTube (mesmo YouTube Kids), TikTok e Instagram não são ambientes para criança. Qualquer um posta o que quer e ela pode estar vendo coisas muito negativas para sua formação ou até perigosas. Dê preferência a aplicativos que acrescentam algo como os jogos didáticos, de lógica, de aprendizado de outras línguas, caça-palavras… O mesmo vale, é claro, para a TV.  Alguns bons exemplos são “Pergunte aos StoryBots” na Netflix, “O show da Luna!” na Amazon Prime Video, “Bluey” no Disney Plus, “Daniel Tigre” no Discovery Plus e Amazon Prime Video ou “Numberblocks” na HBO Max. São programas que ensinam e divertem ao mesmo tempo.”

Quer assistir à live da Nanda?

Então, clique aqui e acompanhe a apresentação completa, com muitas informações e dicas.

janeiro de 2024