Visão Educa

Decidir não é fácil, mas você pode aprender a fazer escolhas melhores

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Atire o primeiro cartão de crédito quem nunca chegou em casa com um par de sapatos que não combina com absolutamente nada que há no armário? Ou comprou o último lançamento de celular simplesmente por ser um objeto de desejo geral? Ou sabe que não deve comer carboidratos em excesso, mas “esquece” disso na hora de olhar o cardápio?

Por aí segue uma lista infinita de decisões duvidosas e prejudiciais à nossa saúde e às finanças, entre outros aspectos. Isso acontece porque, na hora de fazer escolhas, nosso cérebro não é aquela máquina perfeita e racional que imaginamos.

Claudia Yoshinaga

Saber disso já é um passo essencial para melhorar nossas decisões como esclarece, na entrevista a seguir, Claudia Yoshinaga, professora de Carreira em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP) e coordenadora do Centro de Estudos em Finanças (FGVcef).

Em abril, Claudia participou de uma ação do programa de educação financeira e previdenciária da Visão Prev, com uma live sobre “Investimentos por objetivos” aberta a todos os participantes. Depois do encontro, ela conversou com nosso Blog sobre como fazer escolhas mais sensatas e positivas. Confira:

Por que é tão difícil decidir?

Imagem retirada da live “Investimentos por objetivos”, com Claudia Yoshinaga.

Vários fatores explicam esse problema. A começar pelo fato de estarmos sobrecarregados com alternativas, o que dificulta o processo. Mas há uma questão anterior: nem sempre sabemos por que estamos decidindo e o que queremos com uma determinada decisão. As pessoas dizem “eu quero guardar dinheiro”. Só que isso é genérico demais. Você quer guardar dinheiro para quê? Essa resposta ajuda a avaliar as alternativas que se ajustam melhor ao seu objetivo em meio a tantas opções.

Como estabelecer objetivos mais claros?

Nesse sentido, vale pensar na hierarquia das necessidades financeiras que estão nesse quadro que costumo apresentar:

Essa pirâmide demonstra os diferentes momentos que todos podem passar em relação ao que se ganha e o que se gasta, visando caminhar para a formação de um patrimônio que nos ofereça liberdade financeira e até mesmo um legado. Para cada um desses momentos, temos objetivos e desafios diferentes que exigem um planejamento financeiro específico e saudável. Digo saudável porque qualquer excesso, para menos ou para mais, pode ser ineficiente e comprometer a programação.

Quais são os aspectos envolvidos em uma decisão financeira?

Quando já temos clareza dos objetivos para o dinheiro que estamos guardando, retorno e risco são os dois principais pontos. É essencial saber a expectativa de retorno para o investimento, o que, vale destacar, nem sempre se realiza em meio às flutuações do mercado. Por isso, o segundo aspecto é ainda mais importante: o risco. As pessoas, às vezes, subestimam alguns riscos e acham, por exemplo, que criptomoeda não é assim tão arriscado até descobrirem que é sim! Portanto, é preciso ter os pés no chão para avaliar as várias opções, pois não há alternativas milagrosas com alto rendimento e baixo risco.

O que pode atrapalhar as boas escolhas?

Uma série de elementos pode motivar essas perturbações. São os chamados “vieses cognitivos”, caracterizados como desvios sistemáticos de racionalidade em nossos julgamentos. Esses desvios são causados por interpretações equivocadas, emoções, influência social, capacidade limitada de processamento e armazenagem de informações pelo cérebro e busca de dados na memória.

Quais são os vieses mais frequentes ou mais graves?

O excesso de confiança traz um grande risco – aliás, não apenas em relação aos investimentos, mas em outros aspectos da vida. A pessoa fez algumas boas escolhas financeiras, obteve bons resultados e aí passa a decidir com base na sua intuição e menos a partir de fontes de informação seguras e transparentes.

Na outra ponta, temos a aversão à perda. Esse medo pode ser tão grande que gera decisões inadequadas como, por exemplo, colocar dinheiro na poupança. Mesmo sabendo que, no longo prazo, trata-se de um investimento desfavorável, muita gente prefere a “segurança” da poupança em detrimento de outras possibilidades pouco arriscadas e com melhores retornos.

O terceiro viés que merece destaque é o paradoxo da escolha, essa ideia de que ter inúmeras alternativas é necessariamente positivo. Nem sempre! Diversas pesquisas apontam que o excesso de opções acaba paralisando as pessoas. Em vez de ser algo bom, ter alternativas demais pode ser prejudicial.

Como, então, fazer boas escolhas?

O primeiro passo é voltar ao início da nossa conversa. É preciso entender em que fase da hierarquia das necessidades financeiras você está e qual seu objetivo para o dinheiro que pretende investir (por que você está guardando dinheiro?). Essas duas respostas vão, de alguma maneira, começar a delimitar quais seriam os produtos mais adequados, reduzindo o leque de alternativas. Mesmo que muitas pessoas não gostem, é inevitável ter que se informar e aprender sobre o mercado financeiro.

Não existe milagre, é fundamental ter conhecimentos básicos para tomar boas decisões. Quanto menos sabemos, quanto menos planejamos, mais permitimos que desejos de curto prazo e vieses cognitivos vençam as escolhas racionais.

Quer saber mais?

Aqui na aba Visão Educa do nosso Blog, você encontra uma série de matérias que ajudam a controlar melhor seus gastos, planejar objetivos e entender o mercado financeiro.

junho de 2023