Visão Educa

Ainda é melhor ir de carro?

A+ A- Baixar
PDF

O automóvel, que desde que chegou ao Brasil em 1891 foi símbolo de maturidade, status e autonomia, vem perdendo cada vez mais espaço entre os mais jovens.

Em entrevista ao site de notícias Agência Brasil, Wagner Prado, presidente da Federação Nacional das Autoescolas e Centro de Formação de Condutores (Feneauto) percebe que “muitos jovens estão adiando o momento de tirar a habilitação”. Mas é ilusório achar que este comportamento está vinculado somente a evitar gastos. “As famílias têm optado por investir em outras coisas, como em cursos universitários para estes jovens. Com isso, muitos acabam desistindo de tirar suas carteiras”, comenta Prado.

Isso porque as novas gerações economicamente ativas possuem valores mais abertos e flexíveis do que as anteriores. Existem muitos motivos para os jovens – principalmente os da Geração Y (conhecidos também como Millenials) – não terem mais o carro como sonho de consumo, assim como não investirem na compra de um imóvel ou outros bens mais duráveis, como móveis e eletrodomésticos. Alguns dizem que é apenas pela sua maior responsabilidade ambiental ou melhor gestão financeira, mas não é só isso. Os comportamentos sociais estão quebrando algumas barreiras no mercado de consumo e nas relações humanas, graças ao que definem como prioridades e às suas formas de olhar para o mundo.

Experiência importam mais

Ao contrário da geração Baby Boomer, para as quais o sucesso era definido pela carreira e pelo acúmulo de bens, a juventude que faz parte da Geração Y em diante tem outros objetivos: acumular experiências e fazer o que gosta. Ou seja, para eles, importa mais ir para um intercâmbio, programar um mochilão com os amigos, empreender ou encontrar o emprego dos sonhos do que assumir um financiamento imobiliário ou um consórcio para compra de um carro, principalmente se for logo no início da vida adulta.

Isso pois são mais “imediatistas” na busca da satisfação pessoal e querem aproveitar as oportunidades que seus pais não puderam quando estavam na mesma fase da vida. Para estes jovens, a compra da casa e do carro, o casamento e os filhos (se vierem), podem ficar para mais tarde.

Mas, apesar disso, ao escolher ter ou não ter algo material como um carro, é importante avaliar os prós e contras desta decisão, seja em relação às crenças e valores, mas também quanto ao planejamento financeiro, afinal, dependendo das rotinas e necessidades, os gastos podem ser até maiores e este jovem pode acabar gastando até mais do que gastaria se tivesse um carro.

O que quero conquistar? O que é importante para mim? Por que fazer isso? Perguntas como estas devem sempre fazer parte da vida de qualquer um que faça planos ou faça escolhas que envolvam dinheiro, e é aí que entra o planejamento. Cada situação é particular e deve ser avaliada de acordo com a disposição de risco, vantagens e desejos de cada pessoa. Até porque, as novas tendências de comportamento – e até mesmo a pandemia – abriram espaço para o uso do carro como um serviço, e não apenas como propriedade.

Serviços para quem optou em não ter um carro

Os aplicativos de transporte são um deles. Populares desde meados de 2016 e procurados por fornecer serviços com uma boa relação custo-benefício, o número de usuários buscando e oferecendo serviços cresce a cada ano. E são várias opções que podem ser adaptadas ao dia a dia de vários tipos de clientes, desde viagens de longa distância, carros de luxo, transporte de animais de estimação ou segurança especial para mulheres.

Vamos comparar e exemplificar?

Na categoria Uber X, que é a mais econômica sem precisar compartilhar o carro com mais ninguém, o preço para deslocamento de 10 km é aproximadamente R$ 22. Considerando ida e volta, são R$ 44.

Se multiplicarmos esse valor pela quantidade de dias em um mês, chegamos no valor aproximado de R$ 1.320 por mês.

Para um carro próprio, considerando que seja um automóvel popular comprado à vista, com custo aproximado de R$ 48.000, e que vai rodar exatamente os mesmos 600 km por mês.

Os custos mensais aproximados, segundo o Meu Carro, do UOL e a Omnicar são:

  • Fixos:
    • IPVA: R$ 160
    • Licenciamento e DPVAT: R$ 8
    • Depreciação (12,5%): R$ 495
  • Variáveis:
    • Gasolina: R$ 231 (o preço médio da gasolina em SP é de R$ 4,62 segundo o jornalAgora. Como são 600 km, serão necessários 50 litros de gasolina, já que o carro anda 12 km com cada litro)
    • Seguro: R$ 115
    • Estacionamento: R$ 400
    • Revisão: R$ 35
    • Lavagens (2 por mês): R$ 80
    • Reparos, multas e outras eventualidades: R$ 150
  • Total: R$ 1.674 por mês.

Gastos por mês

Carro por aplicativo Carro próprio
R$ 1.320 R$ 1.674

*Obs: Como o valor desse tipo de aplicativo é dinâmico, pode ter uma variação mais alta em horários de pico.

Dados: Banco PAN

Pontos a levar em consideração

Carro por aplicativo / aluguel Carro próprio
Praticidade Liberdade de fazer inúmeras paradas
Rapidez Maior capacidade de bagagens
Não se preocupa em dirigir Flexibilidade de ir a qualquer lugar sem depender de ninguém
Compromisso financeiro pontual ou curto prazo Gastos com manutenção
Possibilidade de sempre ter um carro novo Patrimônio material

Ah! Mas os aplicativos de transporte não são a única opção para quem optar por não ter um carro… o aluguel de curto prazo e outros serviços de compartilhamento também ganham mais e mais adeptos. Algumas empresas oferecem, inclusive, novos modelos de negócio, como o carro por assinatura. Nestes casos, basta pagar uma mensalidade e o cliente pode rodar de carro novo sem arcar com gastos como custos de revisão, seguro e IPVA.

Considerando esses dados, é importante uma reflexão e análise antes da decisão de comprar ou não um carro, para que haja um alinhamento de expectativas. Aspectos como tipo de uso, valor de investimento, retorno futuro, forma de pagamento, consumo e condições financeiras de manter um carro são aspectos que precisam ser considerados. A expectativa para essa compra precisa ser unicamente a sua realidade.

dezembro de 2022