Visão de Vida

Conheça Nilton Molina, o fazedor de futuros

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No auge de seus 86 anos, Nilton Molina é uma daquelas pessoas que mudam vidas. Basta ouvi-lo falar em uma entrevista, uma palestra ou ler seus artigos para se ver diante de perspectivas inteiramente inesperadas para velhos (e novos) problemas.

Molina vem dedicando sua vida ao desenvolvimento econômico e social dos seguros de vida e previdência pública e privada no Brasil, sempre buscando soluções que passam longe da obviedade. Um bom exemplo foi uma decisão que tomou, em 2020, em meio à pandemia de covid-19, quando, assim como milhões de pessoas em todo o mundo, teve que ficar em casa.

Em vez de reclamar ou esbravejar, Molina resolveu refletir sobre o caminho percorrido em seus então 84 anos de idade. O resultado? O livro “O vendedor de futuros”, um perfil biográfico escrito a partir de suas conversas com o jornalista e escritor Luís Costa Pinto, publicado em novembro de 2021. No final de março, Molina concedeu a seguinte entrevista ao Blog da Visão Prev. Confira:

Capa do livro lançado por Molina em novembro de 2021.

Você é um dos maiores especialistas brasileiros em previdência complementar. Por que, na sua visão, esse é um assunto tão relevante?

Essa resposta pode ser dividida em 3 momentos: antes, hoje e no futuro. No passado, as pessoas morriam cedo, perdiam a capacidade laborativa muito jovens (entre 55 e 60 anos) e, em sua maioria esmagadora, dependiam essencialmente da Previdência Social. Para aqueles com salários mais altos, fazia todo sentido ter planos de aposentadoria complementar e, ao mesmo tempo, de proteção para a família em relação à morte prematura ou invalidez. Fazia sentido, assim como continua fazendo até hoje, esse sonho de viver alguns anos no ócio remunerado pela sociedade – ou seja, no descanso sem produzir renda, com o benefício da Previdência Social e uma eventual complementação privada.

Se olharmos para o futuro, veremos as consequências da transição demográfica que vivemos, na qual nascem menos crianças e a longevidade é muito maior. Isso quer dizer que foi rompido aquele pacto social que dependia de muitas pessoas na ativa trabalhando para sustentar a si próprias e aos aposentados. Sendo assim, se um plano de previdência complementar ao seguro social foi importante no passado e é essencial no presente, ele será indispensável no futuro.

Quais as consequências dessa perspectiva para o futuro?

As pessoas velhas ou idosas (como você preferir chamar os que têm mais de 65, 70 anos), saudáveis e autônomas intelectual e fisicamente, não poderão mais se aposentar. Isso se entendermos aposentadoria no sentido de “ir para o aposento” e abrir mão de sua capacidade produtiva. Provavelmente essa noção não existirá mais, pois a expectativa de vida será muito alta e dificilmente a acumulação (pessoal e social) será suficiente para fazer frente à necessidade de gastos e manutenção da qualidade de vida.

Portanto, os planos de previdência complementar são absolutamente fundamentais para ajudar na composição dessa renda mensal futura. Mas é bom reforçar: a geração de novos recursos passará a ser cada vez mais necessária. Vale notar que, mundialmente, há um aumento notável na idade mínima exigida para o recebimento da aposentadoria pública que vem, paralelamente, diminuindo o seu valor per capita.

É, então, urgente que as pessoas na ativa entendam que, dos 100% que ganham no presente (não importa quanto), uma parte pertence ao futuro. É mandatório poupar!

E como se manter ativo?

Vou dar meu testemunho pessoal: sou um jovem que acaba de completar 86 anos e não me imagino sem trabalhar, desde que tenha capacidade de fazê-lo. Eu recebo uma renda proveniente dos investimentos que fiz ao longo dos anos, além da aposentadoria do INSS, mas isso não tem nada a ver com sair da ativa. Esses recursos me permitem trabalhar com menos estresse e menos horas por dia ou por semana porque uma parte das minhas necessidades financeiras já está suprida. O trabalho entra, então, em outro registro: eu continuo produzindo renda, mas de forma mais tranquila, o que ajuda a manter meu padrão de vida e minha mente alerta e ocupada.

Essa postura está ligada à nossa capacidade de sonhar, projetar, realizar coisas novas, enfrentar os desafios modernos, entender as mudanças na nossa sociedade e como estar em dia com elas. Ou seja, basicamente diz respeito a não ir para o aposento, a continuar produzindo. Para tanto, precisamos tirar da nossa cabeça essa noção de que, mesmo com a capacidade laboral em dia, o ideal é não trabalhar mais. Temos que operar essa questão no nível individual e também como sociedade, enfrentando o preconceito que existe contra os idosos.

Em dezembro de 2018, Molina fez uma palestra sobre “Longevidade”, dentro do programa “Visão Mais Perto”, que contou com cerca de 70 participantes.

Falando em mudança de comportamento, o senhor poderia explicar como funciona o Projeto Reta (Regime Especial de Trabalho do Aposentado)?

O Grupo MAG Mongeral Aegon criou o Instituto de Longevidade MAG, uma organização não-governamental que tem como objetivo principal estudar, prover conteúdo e até recursos para compreender os impactos sociais, econômicos e comportamentais da velhice. Entre outras inúmeras iniciativas, desenvolvemos, em parceria com a FIPE/USP, o Projeto de Lei Reta. A ideia é adaptar os princípios do programa Jovem Aprendiz que facilita o acesso ao mercado de trabalho para adolescentes de 14 a 24 anos, por meio de um contrato especial que permite menor carga horária e redução ou até eliminação de alguns encargos sociais. O Reta visa oferecer esse mesmo incentivo para a contratação de aposentados 60+, com flexibilidade horária (algumas horas por dia ou alguns dias por semana ou somente nos finais de semana, por exemplo) e sem custos sociais como FGTS e INSS. Criamos esse projeto há cerca de quatro anos, mas infelizmente fomos atropelados por outras questões como a reforma da Previdência, da legislação trabalhista e até mesmo a pandemia. O Reta perdeu a prioridade, mas não sua urgência em se tornar realidade (clique aqui para saber mais).

Isso representa uma grande quebra de paradigma. Como estamos em relação a esse movimento?

Estamos caminhando, mas ainda temos que evoluir muito nesse novo pacto social e econômico, tanto na disposição das empresas para selecionar pessoas mais velhas quanto dos próprios profissionais a fim de se adaptar ao trabalho com equipes multietárias.

Para isso, precisamos ter em vista a importância da requalificação profissional, ou seja, a necessidade de adquirir novos conhecimentos e habilidades porque, provavelmente, será preciso se reinventar e ter mais de uma carreira ao longo da vida diante da perspectiva de se passar dos 100 anos.

Já conheci diversas histórias muito interessantes de como essa requalificação abre perspectivas novas e enriquecedoras. É basicamente o que mostra, com muito bom humor, o filme “The intern”, com Robert De Niro e Anne Hathaway (“Um senhor estagiário”, disponível no Brasil pela HBO Max). Essa será nossa realidade e temos que entender e desenvolver esse novo indivíduo e essas novas relações de trabalho o mais depressa possível.

O Instituto de Longevidade Mongeral Aegon disponibiliza gratuitamente mais de 300 cursos online de qualificação. Os temas são relacionados com saúde física e mental, gestão financeira, informática, inglês e comunicação oral, entre outros. Clique aqui para conhecer as opções.
maio de 2022