Instinto e razão. Essa dupla costuma ser responsável pela maior parte de nossas escolhas. Desde como reagir diante de um rottweiler que avança rosnando em nossa direção até como decidir sobre a melhor opção para o tratamento de uma doença grave. “São questões diferentes que envolvem, portanto, atitudes também diferentes. A primeira demanda uma reação rápida e a segunda exige reflexão e análise. Não se pode confundir esses momentos”, explicou Marcelo Audi, gestor e sócio fundador da Cardinal Partners em sua palestra sobre “Finanças Comportamentais” para o programa Visão Mais Perto, no dia 3 de setembro, na sede da Visão Prev, em São Paulo (SP). “O problema é que, quando falamos de investimentos, muitas vezes, as pessoas são movidas por impulso e cometem equívocos graves que podem levar a perdas significativas”.
Veja os principais tópicos abordados por Marcelo em sua apresentação:
“Várias pesquisas mostram que nosso cérebro funciona com dois sistemas diferentes que são ativados de acordo com cada situação que vivemos. No sistema instintivo, nossas decisões são tomadas através de atalhos mentais que nos possibilitam fazer escolhas rápidas e superficiais, que exigem pouca concentração e baixo gasto de energia. Elas são mais eficazes quando a velocidade é melhor do que a precisão (como no caso do rottweiler). No sistema racional, as escolhas são mais lentas e profundas e demandam alta concentração e maior gasto de energia. Nelas, a precisão é mais valiosa do que a velocidade (como no exemplo sobre a definição do tratamento médico).”
“Esse viés indica que costumamos projetar linearmente uma situação presente para o futuro. As consequências desse comportamento são que compramos papéis cujos preços vêm subindo e vendemos aqueles com os preços em queda, investimos em fundos com retornos positivos nos meses anteriores e resgatamos daqueles que tiveram retornos negativos, subestimamos pontos de inflexão (de mudança de rota) e superestimamos tendências.”
“Ao contrário do que seu nome sugere, esse viés nos leva ao risco e à perda. Isso porque resistimos a mudar de opinião, mesmo diante de informações e evidências contrárias ao que pensamos, o que nos leva, por exemplo, a deixar de comprar barato, quando determinados fundamentos começam a melhorar (e vice-versa). Se estamos numa recessão, pensamos que ela deve permanecer mesmo frente a sinais ou indicadores econômicos mais favoráveis (e, novamente, o contrário também é verdadeiro). Por causa desse conservadorismo, ficamos presos às nossas ideias e perdemos boas oportunidades de investimento.”
“Esse viés se apresenta quando as circunstâncias nos influenciam a tomar decisões viscerais em relação aos investimentos (guiadas por euforia, medo ou raiva, por exemplo). É semelhante à seguinte situação: você está no cinema, sente um forte cheiro de fumaça e alguém grita ‘fogo’; se todos permanecerem sentados, sua tendência é fazer o mesmo; mas se as outras pessoas saírem correndo, é pouco provável que você fique parado.”
“A dor de uma perda é duas vezes maior do que o prazer de um ganho. É assim que nós somos! Se experimentamos uma perda num investimento, resistimos a investir naquele ativo novamente. E pior: de acordo com as pesquisas, se as perdas aconteceram mais de uma vez, a resistência é ainda maior. A aversão à perda pode nos impedir de tirar proveito das boas oportunidades.”
“Por conta desse viés, nós tendemos a manter uma decisão tomada anteriormente em função de uma ilusória sensação de controle ou por medo de nos arrependermos. É interessante saber que sentimos um arrependimento maior por uma perda causada por uma decisão que tomamos do que por uma perda devida a uma decisão que não tomamos. A implicação disso é que podemos continuar presos a escolhas que, com o passar do tempo, não são mais adequadas.”
“Essa postura revela que superestimamos a nossa habilidade de controlar eventos. O resultado desse viés é que agimos de forma imprudente e com excesso de otimismo em alguns momentos, tentamos adivinhar o que irá acontecer no mercado e agimos guiados pelo chamado ‘curtoprazismo’ (vontade de obter retornos rápidos), sem considerarmos questões estruturais ou de médio/longo prazo. Nos investimentos de previdência, isso pode ser particularmente perigoso.”
“Temos aqui o famoso ‘efeito manada’. Quando confrontados com opiniões contrárias às nossas, tendemos a mudar nosso julgamento na direção da maioria. Isso acontece porque temos dificuldade para tomar decisões fora do consenso. Se observamos os animais, vemos que este é um instinto de proteção e sobrevivência. Mas nós não somos mais primatas e precisamos, então, conter esse viés comportamental.”
“Boas escolhas de investimento exigem disciplina para seguir um processo formal de análise e decisão, com consciência de que os movimentos pendulares fazem parte do mercado e que precisamos aprender a reconhecê-los, sem pânico ou euforia. Procure saber mais sobre investimentos porque o conhecimento traz convicção e essa convicção pode minimizar nossos vieses, pois ajuda a manter o autocontrole. E lembre-se de refletir não apenas sobre o retorno potencial, mas também sobre os riscos envolvidos nas diferentes alternativas.”
“Principalmente nos planos de previdência, temos que pensar qual é a estratégia desejada para o longo prazo com a cabeça fria para não cometer erros. São questões do tipo: Qual é o tipo de perfil de risco que desejo? Como deve ser a composição da minha carteira? Qual a renda que quero na aposentadoria? Depois de respondidas essas perguntas e tomada a decisão, é fundamental ter consistência e não mudar a cada movimento pendular do mercado.”